Parada na sacada com o parapeito de vidro encostando na minha pele à cima da linha do umbigo mantenho o olhar ao longe. Sem desviar os olhos para baixo ou para cima, o que vejo a minha frente na altura natural dos meus olhos é o horizonte.
Estamos no nono andar de um prédio residencial que fica numa região alta da cidade e assim, mesmo os prédios com a mesma altura que este, por estarem dispostos em ruas mais baixas, acabam ficando posicionados à baixo da linha dos meus olhos. Daqui, o horizonte distante onde o céu toca a terra - ou seria a terra que toca o céu - enfim, lá onde parece que o mundo termina, como se pudéssemos ver a borda do mundo, é aonde minha visão - ainda privilegiada aos 30 e poucos - alcança.
Uma vasta extensão de terra plana, lavoura e árvores, encontrando o céu hora azul brilhante, hora vermelho fogo e por vezes mesclando tons de cinza que vão do quase branco ao quase preto nos anunciando temporal.
Nesta silenciosa tarde de domingo, quando parece que o mundo todo cochila para fazer a digestão, eu me pego observando a vista espetacular deste nono andar. Tudo lá em baixo está calmo, vazio, silencioso. As ruas desertas como se todos tivessem sido afetados pelo sono profundo. Um misto de paz e angústia envolve esse momento. É uma espécie de vazio, ver o mundo aqui de cima dá a medida da imensidão. Trás a tona a nossa miudeza, nossa insignificância diante do todo!
Aqui onde ninguém vê, ninguém alcança. Onde preciso baixar os olhos para tocar a existência da humanidade, como se eu estivesse a cima dela, me pergunto: o silêncio, o tédio, o vazio....são conforto ou desconforto? Quando o mundo silencia e parece que só você está de olhos abertos, no privilegiado topo do mundo, você se vê abençoando ou incomodado?
Por aqui o silencio é paz. O pequeno incomodo do tédio é fonte de inspiração. Escrevo enfim! Pra ouvir dentro, pra por pra fora, pra afirmar a minha existência viva, alerta e pulsante, neste mundo de muitos. Só eu e os passarinhos que voam na altura de meus olhos, como testemunhas de que esta tarde de domingo de fato existiu!
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