Sempre que penso em ti, com nostalgia de nosso tempo juntas, penso em tuas ruas.
Dos dez anos em que convivemos diariamente, muitos foram os lugares onde estive, os endereços onde morei, as festas, os amigos, os amores, as memória. Porém, sempre que penso em te ver de novo, é sempre nas tuas ruas que quero estar.
Tuas calçadas irregulares, tuas avenidas largas, cortadas a cada 100 metros por tuas ruas estreitas. Tuas ruas com nome de avenida - embora não sejam - tuas vias sinuosas como um dia foram os trilhos dos trens que levaram a prosperidade as tuas terras.
Das praças de árvores centenárias, aos prédios de muitos andares, da agitada vida noturna aos domingos de silêncio, o que mais amo é lembrar das tuas ruas e do meu caminhar.
Desde o primeiro dia em que fixei residência em uma esquina da Avenida Brasil, tratei de me esforçar em decorar o nome de tuas ruas principais, aonde ficavam, para aonde levavam. E por muitos anos meu dia a dia foi de muito caminhar por teus logradouros.
Sempre amei te conhecer. Me fiz adulta em tuas vias, cresci mergulhando nos teus becos, aprendi sobre a vida entre o agitado vai e vem da tua rotina. Aprendi a me guiar por teus bairros e ruas escondidas. Tuas ligações menos usadas, tuas escassas ruas de paralelepípedo. Teus bairros menos famosos, que no silêncio das segundas feiras a tarde, me lembravam minha pequena cidade natal.
Meus passos receosos pelas noites escuras. Meus passos rápidos pra não perder o ônibus. Minha mente viajante viajando longe enquanto teus comércios - fonte principal do teu viver- passavam como borrão pela janela do ônibus.
Meus passos largos rumo ao trabalho e meus passos lentos de volta pra casa. Os passos ofegantes depois do cigarro - sobremesa típica daqueles tempos - os eventuais passos trôpegos, resultado do álcool. E também os firmes e responsáveis passos pra faculdade.
Já há muitos anos és memória, vens à tona no silencio de meus pensamentos no automatizado trabalho manual que exerço. E quando penso na saudades....minha saudades é sempre essa...sempre de tuas ruas...sempre do meu caminhar.
Me vejo cruzando a Praça da Cuia, e a Praça do Hospital São Vicente. Passo em frente a padaria na frente do hospital. Fico feliz com as árvores que emolduram o campo do quartel e com a rua que se alarga a perder de vista...
Num outro saudosismo à toa, caminho na lateral de outra praça, desvio os olhos do camelô, foco nos imensos pés de algodão...logo ali tem o Velvet, e aquela Chopperia que pouco tempo durou. Dobro à direita.
Também desço ruas apertadas demais para 2 carros passarem, ladeira a baixo, tem o Zaffari da Vergueiro. Ladeira a cima, sabia que tem muitas ruas de paralelepípedo e casas enormes? Que o bairro Fátima se liga com a Vera Cruz?
E lá na outra ponta, onde a Cohab 1 e 2 são divididas pela Av Brasil e os dias de semana são calmos como cidade de interior. Você conhece?
Que do Boqueirão você chega na Lucas Araújo, e logo ali é a Vila Luiza. Que a Sete de Setembro termina estreita, quase sem importância, perdida e sinuosa ela morre entre casinhas antigas lá na Ângelo Preto.
Que a Morron é linda no Natal e que a Praça Santa Terezinha é a minha preferida da cidade. Que o Sétimo Céu é ponto histórico, e que todo mundo sabe onde fica a decida do capingui. Que a Gare era perigosa e puro mato, que o Passo Fundo Shopping não passava de um paredão enorme, de um pavilhão desativado. Que o Bella Citta já foi metade do que é, e que a outra metade não passava de um estacionamento enorme do mercado Zaffari, com um quiosque do Mac Donald na esquina.
Que o Shopping Plaza já foi famoso, assim como o bailão da 15. Que o cinema do Bourbon já teve seus dias de glória. Que as galerias da cidade já foram refúgios famosos de muitos comércios. Que as locadoras de vídeo cassete e DVD eram enormes e famosas. Que o Hospital de Clínicas, era Hospital da Cidade e também era metade do que é hoje. Que o Mucio de Castro já foi o único teatro da cidade e que ali nos fundos rolava um sopão comunitário pras pessoas carentes...e se você descer as escadas vai se deparar com a escondida Biblioteca Municipal?
Ahhh quantas e quantas histórias, quantas e quantas ruas, quanto caminhar.
Foi sempre um prazer... fisicamente não caminho mais por tuas ruas, mas mentalmente sigo caminhando por ti...pelas tuas ruas o meu caminhar!