segunda-feira, 17 de abril de 2023

Domingos de chuva

Domingos de chuva vem como um aval para o não fazer nada. É em domingos de chuva que, sem culpa, você simplesmente se deixa ficar. Derrama o corpo na cadeira, no sofá ou na cama e permanece na inércia vendo o tempo passar. 

Pega um livro ou liga a TV. Assiste um filme qualquer ou mergulha de cabeça num seriado por horas a fio. Não tira o pijama o dia todo, toma mais café do que deveria, come qualquer coisa, umas porcarias ou tira o tempo de fazer aquela comida gostosa e demorada. 

Nos domingos de chuva você tem a garantia de que ficar em casa é o melhor negócio e então se livra do peso daquela dinâmica social que diz que domingos de sol devem ser aproveitados ao máximo, com passeios, praia, amigos, família.

Domingos de chuva são aconchegantes, intimistas, serenos, calmos e sutis. Te obrigam a acalmar a mente e buscar dentro de si e do seu infinito particular um quê pra fazer ou não fazer. 

Domingos de chuva são caixinhas de possibilidades de autoconhecimento. É um pouco de você que surge de baixo da correria do dia a dia. 

Mas, num mundo de redes sociais de dias de sol, um dia de chuva pode trazer angústias, pode trazer um desespero para aqueles que não estão acostumados a ficar na sua própria companhia, a parar e curtir um momento de silêncio, de paz, de tranquilidade...de nada. 

Para mim é gostoso, o barulho da chuva no telhado, a certeza de que vou passar o dia curtindo a casa com o meu amor! Essa coisa gostosa de aquietar-se sem culpas. De saber que estamos em casa mas não estamos perdendo nada lá fora. Não poderíamos estar em outro lugar, nenhum passeio, nenhum trabalho externo. 

A grama não pode ser cortada, as árvores podadas, a parede não pode ser pintada, os exercícios físicos ao ar livre são suspensos. Diante da completa falta de possibilidades lá fora...eu curto muito estar aqui dentro. No meu mundo no meu momento, e tá tudo bem! Não é um dia perdido, pelo contrário. 

É claro que amo dias de sol, e domingos de sol. Amo passear, conhecer novos lugares e até mesmo aproveitar pra cuidar do jardim ou correr na rua. Mas num mundo sempre cheio de tarefas é a chuva que vem e freia tudo aquilo que não é essencial. As vezes desfaz planos, muda a rotina. 

Eu, deixo a chuva lavar a alma, limpar o céu, descarregar as energias, levar embora tudo o que estava acumulado aqui e ali, deixo a água correr livre lá fora enquanto olho pela janela e me deixo ficar, aqui, quietinha, sob o peso do nada. 

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