sábado, 21 de março de 2020

Pânico - Ele está entre nós !

Era uma quarta feira como outra qualquer na pequena cidade simpatia. Pouco mais de 15.000 habitantes seguindo suas vidas nas entranhas do Rio Grande do Sul. Num cantinho cercado por morros de todos os lados, a sensação de segurança pairava no ar.

As crianças corriam pelos corredores das Escolas ao som do sinal para o recreio. Os trabalhadores a passos largos entravam e saíam de seus postos de trabalho. As donas de casa se envolviam com as panelas para o almoço. Os jovens ocupavam as praças. E os idosos se divertiam em rodas de chimarrão nos Postos de Combustível, ao redor das mesas de jogatina nos botecos, e tomando sol em grupos nos bancos da praça. Tudo seguia seu curso natural... apenas um dia qualquer!

Sabedores da situação do coronavírus em outras localidades do país, os Serafinenses humildemente acreditavam que nada tiraria a paz das nossas ruas amáveis e dos nossos lindos Castelos.

O que ninguém sabia era que já a cerca de uma semana, o inimigo nos rodeava. Aderindo aos objetos aqui e ali, passando no aperto de mãos dos conhecidos, no amigável tapinha nas costas. Seguindo viagem nos trocos guardados nas carteiras, e aos poucos ocupando espaços por todo lugar. Desonesto o vírus que ataca pelas costas, silencioso, potente, invisível.

Mas naquela quarta feira, para nós, o vírus ganhou um nome e um rosto. Itelvino Mezzomo, o senhor de 63 anos conhecido por toda a comunidade, passou a ser a imagem do vírus entre nós! Internado em estado grave, travando uma batalha pela sua própria vida, ele trouxe o pânico e acendeu o sinal de alerta na nossa comunidade .

Repentinamente não éramos mais pequenos, não éramos mais um município simpático e esquecido. Éramos, em poucas horas, mais uma estatística. Mais um caso. Mais um número no painel do Coronavírus. O primeiro caso da região.

E desde então deixamos de ser quem somos, para fazer parte de um filme de terror. Uma filme de guerra. Uma luta travada contra um inimigo mortal, que nos torna frágeis e vencíveis. Mas também uma dura batalha contra a ignorância, contra a estupidez, contra o descaso e o egoísmo que matam antes mesmo do vírus!

Apavorados correram as compras. Alguns com máscaras, outros com luvas. Avançaram no álcool gel.  Buscaram não se aglomerar, mas se abraçaram nos amigos. No mercado só um por vez pode entrar, mas na fila de espera se tocam e se empuleram. Os idosos, como grupo de risco, ao invés de se fecharem em casa atendendo ao apelo dos sistemas de saúde, correm aos habituais pontos de encontro para conversar com os amigos sobre o Sr Itelvino. E assim... na contramão das orientações, se expõem ao risco.

Com lágrimas nos olhos fechamos nossos comércios. Nos retiramos em nossas casas sem saber quando e como poderemos voltar.


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